quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Lula mais parece uma criança mimada......


LULA SEM CPMF E O
LIMITE DA IRRESPONSABILIDADE FISCAL


por Paulo G. M. de Moura, cientista político

O destempero verbal e o tom de ameaça de Lula aos adversários da CPMF sugerem que as informações da imprensa sobre a falta de três a cinco votos para o governo aprovar a renovação desse imposto, às vésperas da votação, procedem. Não pode ser descartada a hipótese de que, sabedores da derrota provável, alguns senadores oscilantes, temendo a reação de seus eleitores, terminem abandonando a canoa governista na última hora. A se confirmar esse cenário, duas interrogações se impõem à análise política:

a) O que estaria levando Lula à derrota?

b) Como governará Lula sem os R$ 40 bilhões anuais desse imposto?

Se a CPMF for aprovada, a nação inteira já sabe qual terá sido a natureza dos ‘argumento$’ usados para seduzir os poucos senadores recalcitrantes. Mas, tudo indica que, se a derrota da CPMF se confirmar, a explicação para o fato estará na fome de poder de Lula, que deixou o debate sobre o terceiro mandato se misturar com a tramitação do imposto. Agregada a esse fator, a segunda razão terá sido a reação da opinião pública diante da voracidade fiscal de um governo perdulário e conivente com a corrupção.

Um levantamento de opinião do Ibope de junho de 2005 apontou rejeição de 73% dos entrevistados à atuação do governo na área dos impostos. No Rio Grande do Sul, onde os três senadores devem votar com Lula acreditando em socorro federal ao estado falido, levantamento do Dataulbra de 2007 revelou rejeição de 94% dos gaúchos a aumento de impostos. Sob forte pressão popular, a Assembléia Legislativa do RS rejeitou pela segunda vez, e agora por 34 votos a zero, um tarifaço no ICMS de energia, combustíveis e telecomunicações proposto pela governadora tucana Yeda Crusius.

Alguns dos principais veículos de comunicação denunciam, em meio às ameaças de Lula de surrupiar dos brasileiros R$ 40 bilhões de reais por ano até 2011, que os gastos sociais do governo estão estacionados em 16% do orçamento. Ao mesmo tempo, despesas correntes injustificáveis com contratações de militantes sem concurso e mordomias crescem em proporção e velocidade além do limite da responsabilidade.

A intenção assumida dos lulistas, com a conivência de Lula, de tentar mudar a Constituição para se perpetuarem no poder parece ser o fator decisivo para a reação da opinião pública, de setores da mídia e da oposição no Senado, para barrar a CPMF.

A intenção continuísta de Lula ficou evidente com seu silêncio em relação às iniciativas de seu amigo, deputado federal e sindicalista do PT por São Bernardo do Campo, Devanir Ribeiro, de aprovar a re-reeleição por plebiscito. Silenciando sobre isso e apoiando a iniciativa de Hugo Chávez em referendo, sob pretexto de não ingerência nos assuntos internos da Venezuela, Lula deu razão a seus críticos, que viam na aprovação da CPMF a fonte de financiamento de re-reeleição do presidente. Ao perceber o erro, tarde demais, Lula se pronunciou, já sem ser acreditado, desautorizando as iniciativas continuístas de seus subalternos.

A pesquisa Datafolha, publicada no dia do referendo na Venezuela em que Chávez saiu derrotado, revelando que 65% dos brasileiros reprovam a reeleição de qualquer presidente para além de um segundo mandato, também contribui para a virada do vento que embalava Lula desde sua reeleição. O clima de iminência de guerra civil que se instala na Bolívia com a beligerância permanente de Evo Moralez, que aprovou sua possibilidade de reeleição eterna, também concorre para o sentimento democrático de prevenção contra a voracidade descontrolada de Lula e dos petistas por mais e mais poder e dinheiro.

No dia 21 de novembro passado, publiquei aqui artigo no qual expliquei a precipitação de Lula ao atropelar a votação da CPMF com o debate da nova reeleição como possível prevenção diante das incertezas que a crise do mercado imobiliário norte-americano causa sobre o mercado financeiro internacional, prenunciando o desaquecimento, ou talvez a reversão da onda crescimento que vem marcando a economia mundial no último período. Lula precisa de popularidade para pressionar o Congresso a mudar a Constituição em seu favor, ou para vencer um eventual plebiscito que aprove sua permanência no poder. A pesquisa Datafolha, mostrando que os brasileiros rejeitam nova reeleição de Lula mesmo aprovando seu governo, foi um recado claro e com alvo certeiro nas ambições desmesuradas de poder do petismo.

Daqui para frente, o que deve preocupar quem presa a democracia e o esforço despendido para a conquista da estabilidade monetária e do equilíbrio fiscal, é o descontrole emocional de Lula. Tal como criança educada sem limites, contrariado, Lula não hesita ameaçar quem discorda da sua vontade monárquica. No debate sobre a CPMF, todos os ministros que falaram à opinião pública recorreram à chantagem contra a oposição, ameaçando responsabilizar os adversários do imposto pelos cortes nos gastos sociais.

A ética da responsabilidade e o compromisso com a estabilidade monetária e o equilíbrio fiscal exigem que Lula pare de dar péssimo exemplo com o comportamento perdulário com o cartão de crédito corporativo da Presidência da República. E também, que pare com a contratação desenfreada de militantes a serviço de suas pretensões a um terceiro mandato. Contrariando a lógica que manda cortar o supérfluo e o desnecessário, Lula ameaça cortes nos gastos sociais, de fato, ameaça o povo que mais precisa dos serviços públicos essenciais, não a oposição. Ao mesmo tempo, seu ministro da Fazenda ameaça reduzir o superávit primário para 0,5%, beirando perigosamente o déficit inflacionário e jogando tensão no mercado financeiro, na tentativa desesperada de renovar a aprovação da CPMF.

Como Lula quer ser lembrado após entregar - democraticamente, espera-se - o cargo ao sucessor?

Como estadista ou como sindicalista?

Editor do site www.professsorpaulomoura.com.br

Do Blog Diego CasaGrande

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