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(Dom Lula I – o mais novo magnata do petróleo, segundo o seu colega venezuelano Hugo Chávez)
O anúncio causou forte impacto, especialmente porque os esbirros petistas, alojados na grande imprensa amestrada (com as exceções de praxe), esmeraram-se para cumprir seu papel de divulgadores dos interesses governistas, ainda que a notícia fosse requentada, já que especialistas do setor estavam “carecas” de conhecê-la, tendo a mesma sido dada, em primeira mão, pelo jornal Gazeta Mercantil, em 6 de setembro de 2005.
Quem quiser acreditar nos dados e relatórios divulgados no dia 8 de novembro, inclusive quanto à viabilidade tecnológica e econômica de se retirar – a curto prazo – petróleo e gás a 7 quilômetros de profundidade, abaixo de uma espessa barreira de sal e distante 250 quilômetros da costa mais próxima, que acredite. No entanto, acho que, antes, seria conveniente colocar alguns fatos históricos na balança para não perder de vista o estilo dessa gente:
A – Em 2005, foi anunciado ao país, com toda a pompa e circunstância (características, aliás, inarredáveis do agressivo marketing político petista), que a Petrobras havia alcançado um patamar de produção suficiente para que o Brasil pudesse ser considerado auto-suficiente em petróleo. Nacionalistas, protecionistas e estatistas de todos os matizes rejubilaram-se com o grande acontecimento, mas eis que tudo não passou de uma grande jogada de marketing. Seja pela incompatibilidade entre o petróleo tirado da plataforma continental (pesado) e as características das refinarias locais, preparadas para processar óleo leve, ou mesmo pelo aumento da relação consumo/produção, a verdade é que, até setembro de 2007, a conta petróleo (óleo cru e derivados, exceto gás natural), segundo dados da ANP(1), apresenta um déficit de, aproximadamente, US$ 1,7 bilhão.
B – Quando foi anunciada a descoberta do campo de gás natural de Mexilhão, em 2005, as reservas iniciais estimadas (e amplamente propagadas na imprensa) eram de 400 bilhões de metros cúbicos. Hoje, estima-se que sejam de 250 bilhões e os menos otimistas ainda acham o número alto. Já o prazo de início das operações também foi revisto, passando de 2008 para 2009(2).
C – Em 1974, anunciou-se que o Campo de Garoupa, na costa do Rio de Janeiro, seria um reservatório de 800 milhões de barris de petróleo. A realidade futura mostrou que o número era muito menor do que isso, um quarto para ser mais exato(2).
D – Quando foi anunciada a descoberta do Manancial de Caioba, nos idos de 1970, estimou-se uma produção média diária de até 500 mil barris/dia (haja megalomania). Depois que o mesmo entrou em operação, concluiu-se que produziria não mais que 30 mil barris/dia(2).
E – Em 2003, a ANP anunciou a descoberta de um “campo gigante” em Sergipe. Na ocasião, a agência de petróleo divulgou uma estimativa de 1,4 bilhão de barris de petróleo. A informação foi depois negada pela então Secretaria Nacional de Petróleo, Gás e Combustíveis Renováveis, para quem a projeção girava em torno de 370 milhões de barris, ou pouco mais de 25%. A divulgação precipitada gerou especulações à época, inclusive com suspeitas de favorecimento de investidores(2).
Para começar, segundo a Folha de São Paulo, “o presidente Lula havia antecipado a informação sobre o megacampo a governadores em visita a Zurique, no final de outubro.” Eram, salvo engano, 13 governadores presentes, sem contar os indefectíveis assessores. Vocês acham que existe alguma hipótese de que todos eles tenham guardado a informação em segredo? Ora, dirão os defensores do bufão, “é evidente que o presidente não fez por mal ou com segundas intenções”. Concordo. Acho inclusive que foi tudo pura fanfarronice, onde a vaidade do falastrão falou mais alto, como de hábito. Em todo caso, tenha havido dolo ou não, trata-se de um assunto que não pode deixar de ser investigado. Alô, CVM! Alô, Ministério Público!
Só para que se tenha idéia da irresponsabilidade e do absurdo que cercaram aquele anúncio, destacamos abaixo, para efeito de comparação, algumas frases, pinçadas de uma apresentação que a empresa preparou para investidores institucionais e cuja forma, por determinação expressa dos órgãos reguladores e fiscalizadores, deve ser muito mais técnica e muito menos política. Logo no primeiro slide, um alerta importantíssimo, mas que passou a léguas de distância das bocas dos trombeteiros petistas: “os resultados futuros das operações da companhia podem diferir das atuais expectativas”. Já se a notícia fosse deixada a cargo do diretor de exploração e produção, Guilherme Estrela, ela seria formatada de forma mais cautelosa ainda. Eis as palavras do mesmo: “o que encontramos dá robustez às nossas hipóteses, mas ainda é (só) uma hipótese”. Qualquer pessoa com um mínimo de isenção verá que existe uma diferença oceânica entre a voz recatada dos técnicos e a prosopopéia dos políticos – Lula à frente.
O circo montado pela Secretaria de Comunicação Social no dia 8 serviu a muitos propósitos e, sem dúvida, pode ser considerado um retumbante sucesso. De cara, serviu de pretexto para que as autoridades petistas sinalizassem todo o seu apreço pela manutenção do “monopólio enrustido” da Petrobras e retirassem, da próxima rodada de leilões da ANP, prevista para acontecer nos dias 27 e 28 de novembro, nada menos do que 41 blocos, todos eles limítrofes à reserva da bacia santista. Em nome de um nacionalismo espúrio e extemporâneo, mexeram nas regras do jogo sem qualquer pudor, ainda que já houvesse 65 empresas inscritas no leilão, algumas com investimentos vultosos em pesquisa já realizados. Mas, o que representa o respeito às normas e aos contratos, diante do famigerado “interesse soberano do país”, materializado nesse verdadeiro ícone do nacionalismo tupiniquim, não é mesmo?
Outro claro propósito dos marketeiros petistas foi tirar os holofotes da mídia de cima do resultado ridículo que a Petrobras apresentaria no dia seguinte. O lucro líquido(3) do paquiderme monopolista levou um tombo de 22%, em relação ao mesmo período do ano anterior, ainda que as vendas totais tenham aumentado 9% e a receita líquida 3%. Como de praxe, colocaram a culpa do mau desempenho num bode expiatório – o câmbio – mas o verdadeiro vilão não é outro senão as pesadas transferências de recursos para cobrir rombos da PREVI, que eles chamam pelo pomposo nome de “gastos vinculados à repactuação de cláusulas do regulamento do plano de pensão”.
Os tais “compromissos relacionados com o acordo de obrigações recíprocas”, como também são chamados, fizeram com que a rubrica “Fundos de pensão e saúde” fosse responsável, sozinha, por um resultado negativo, no trimestre, de R$ 1.147 bilhão, contra R$ 484 milhões no mesmo período de 2006. Agora, estimado leitor, preste bastante atenção a estes números: de janeiro a setembro de 2007, os gastos totais da empresa com o item “Pessoal” – salários, vantagens e encargos – foram de (inacreditáveis) R$ 10,020 bilhões. Para se ter uma idéia do descalabro que isso representa, esse valor é superior a tudo que o governo irá desembolsar com o Bolsa-Família em 2007 (orçado em R$ 8,7 bilhões). Como no mesmo período de 2006 essa rubrica alcançou R$ 7,610, conclui-se que houve um acréscimo de 31,67%. Seria um pouco mais palatável se esse aumento tivesse sido acompanhado, em proporção, pelo aumento dos lucros ou pelos demais gastos operacionais, mas não foi o que ocorreu. Senão, vejamos este interessante, e bastante ilustrativo, quadro que, nas demonstrações financeiras da empresa, leva o nome de “distribuição do valor adicionado consolidado”:

Como se pode facilmente notar, enquanto as participações da “viúva” – aquela que de nada reclama e tudo aceita mansamente – na distribuição do valor adicionado caíram de forma abrupta, os verdadeiros e reais proprietários – ou melhor diria eu, se dissesse “amantes” desta fabulosa virgem dos lábios de mel? – aumentaram seus ganhos em mais de 30%. Reparem também como o item que congrega “juros, variações cambiais e monetárias”, malgrado tivesse sofrido um aumento de 53% no período, representa menos da metade dos gastos com pessoal. E eles ainda têm coragem de chamar aquilo de empresa pública.
É: pensando bem, acho que devo juntar-me àqueles que lutam, não pela privatização da dita cuja, mas pela sua real e definitiva reestatização.
(1) Fonte: ANP - http://www.anp.gov.br/doc/dados_estatisticos/Importacoes_e_Exportacoes_b.xls
(2) Fonte: Jornal O GLOBO - http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=393425
(3) Fonte: Petrobras - http://www2.petrobras.com.br/ri/spic/bco_arq/RMFBRGAAP3T0Port.pdf
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