domingo, 25 de novembro de 2007

PORQUE LULA PRECIPITOU DEBATE DO 3º MANDATO

por Paulo Moura, cientista político

O debate sobre o virtual terceiro mandato de Lula colou de vez. Se não tivesse colado não teria entrado na pauta da mídia como entrou. Hoje, o número de pessoas que não duvida de que essa pretensão dorme e acorda com Lula todos os dias é bem menor do que era logo após a reeleição do ex-operário e ex-sindicalista.

E por que colou se antes não colava? Porque o proponente do projeto de convocação de um plebiscito para aprovar a reeleição eterna de Lula é o desconhecido deputado Devanir Ribeiro, que se elegeu bancado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e é, desde sempre, cria de Lula. O plebiscito é um dos caminhos. O outro é passar e emenda constitucional no Congresso.

Mas, como se vê, há um Senado no meio do caminho. O Senado é um obstáculo mais difícil de contornar do que os milhões de eleitores que Lula compra com benesses governamentais. Já disse aqui que a votação da CPMF é um teste de mercado. Se os senadores, notadamente do PSDB, se venderem para Lula e aprovarem a CPMF, estarão aprovando o financiamento da nova eleição de Lula.

No entanto, conseguir com que um político conceda a outro político mais tempo com a chave do cofre na mão sai bem mais caro. Que o diga FHC. De FHC para cá o preço aumentou e muito. O mercado cresceu; a procura aumentou; a cobiça de quem procura também. E Lula só quer para si, nada mais nada menos do que a reeleição eterna. O pessoal se vende, não tenhamos ilusões. Mas, se errar na dose da barganha em público, talvez o tiro saia pela culatra.

Aí reside a vulnerabilidade do lance. Por via das dúvidas, um tão obscuro quanto desinteressado deputado do PTC de Minas Gerais protocolou a emenda na fila de espera. Mas o plebiscito; o caminho que contorna o Senado, também tem seus problemas. E os dois caminhos têm dois problemas em comum: o timing e a sensibilidade para a condução da aprovação pelos demais políticos e pelo povo.

Com relação a timing e forma, surge uma dúvida. Não teria sido melhor trazer o assunto à tona depois de aprovada a CPMF? Por que precipitar um debate que atrapalha a drenagem de dinheiro público para Lula, se, aparentemente seria mais inteligente só confessar a intenção do 3º mandato depois de abarrotar os cofres do governo de munição para comprar votos?

Pode haver mais de uma explicação para Lula ter soltado o freio de mão num momento como esse. Uma delas é a barbeiragem, o açodamento, trapalhada. Há precedentes. Mas, em se tratando de conquistar e preservar o poder parece pouco provável que os petistas cometessem um erro como esse.

Um dos pré-requisitos para a eleição de Lula é a preservação de sua popularidade em alta. Hoje ele estaria reeleito e a sinalização disso para os políticos é fundamental para o apoio no Congresso, mesmo para aprovar o plebiscito para emendar a Constituição. Aprovar um decreto legislativo requer maioria simples, isto é, menor quorum do que o necessário para aprovar uma emenda constitucional com maioria de dois terços em duas votações em cada Casa Legislativa. Há um Senado no meio do caminho, lembremos.

Para preservar a popularidade Lula precisa contar com os bons ventos da economia internacional. Sem isso o crescimento pífio da economia brasileira vira estagnação ou recessão, dependendo do tamanho da crise que se anuncia nas entrelinhas da mídia. Para bom entendedor, o mercado vem sendo preparado em fogo brando pelo Federal Reserve, que já injetou rios de dinheiro nas empresas falimentares de crédito imobiliário norte-americanas. A reverberação do terremoto já atinge gente de fora do sistema de crédito imobiliário e, inclusive, de fora dos EUA.

Os compradores norte-americanos de imóveis financiados perderam os imóveis e o dinheiro investido. As empresas credoras perderam os compradores e os lucros do dinheiro emprestado. E o tesouro dos EUA injeta dinheiro a rodo no sistema para estancar a crise. Por injeta, leia-se: empresta a juros para empresas à beira da quebradeira. Isso se chama queimar riqueza; perder dinheiro e poder de compra, o que leva ao desaquecimento da economia. E, quando os norte-americanos perdem dinheiro eles compram menos. Isso significa dizer que importam menos de seus fornecedores. Chegamos ao Brasil.

Não se sabe quanto tempo vai levar para a crise emergir ou qual será o impacto do abalo fora dos EUA, mas o deslocamento das "placas tectônicas" no subsolo já emite rumores cada vez mais preocupantes. Se a economia brasileira se desaquecer, os brasileiros mudarão de humor, pois a capacidade de Lula fazê-los sorrir é limitada. Lula não faz a lição de casa. Isto é, tal como novo rico embriagado Lula gasta o que não devia para contratar companheiros e tomar dinheiro de todos os e distribuir para seus eleitores.

Mas, isso não é suficiente para comprar mais de 50% dos votos dos brasileiros. É preciso fazer a economia crescer. E, como Lula não aproveitou o bom momento para diminuir gastos e parar de bater a carteira do contribuinte para financiar cada vez mais gastos inúteis, se a economia parar de crescer ou crescer abaixo do que está crescendo, o engodo virá à tona. É aí que o rabo torce a porca da re-reeleição. De mal com o bolso, o brasileiro reclama do governo e começa a não gostar da corrupção e da politicagem, pois a mesada que Lula lhe paga é a primeira a faltar.

Não sou economista, mas tenho lido cada vez mais meteorologistas anunciando nuvens escuras no horizonte. Além, disso, ano que vem temos eleição. E a eleição municipal desagrega a tão ampla quanto gelatinosa base parlamentar do governo que, nos municípios, disputa o poder contra o companheiro de base governista em Brasília. Assim, com um cenário que prenuncia turbulências econômicas e políticas, talvez só recuperáveis lá muito perto da eleição de 2010 se o estrago não for muito grande, botar o barquinho da re-reeleição a navegar logo pode ter sido um imperativo imposto a Lula pelas circunstâncias, mesmo colocando em risco a aprovação da CPMF.

O que dá a medida de o quanto Lula quer ficar lá para sempre.

E tem gente que não acredita que Lula quer o poder eterno.

Publicado em 22/11/2007

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