Lula, sim, é que fazia oposição leal.
Um estudo de caso
BLOG Reinaldo Azevedo
Lula, como vocês viram, fez ontem um ataque tão covarde quanto calculado ao DEM, tentando isolá-lo na oposição, criminalizando a ação do partido, como se ele atuasse contra o Brasil e de braços dados com os sonegadores. Imaginem só: o representante máximo do partido que adora lidar com malas de dinheiro vivo, quando não o esconde na cueca, posou de sacerdote do fisco. De fato, o homem conta com a memória curta do brasileiro e do jornalismo. Poupou o PSDB — aquela altura, os governadores tucanos já tinham iniciado a nova rodada de pressão junto aos senadores para aprovar a contribuição. Agem debaixo de chicote. Ou tentam aprovar a CPMF, ou Lula lhes promete pão e água. Em vez de eles darem uma resposta política ao presidente, preferem se alinhar com ele. Quem cria corvos acaba com o olho furado.
Ah, os tocadores de tuba! Ah, os que descobriram agora as virtudes da moderação! Leiam isto: “O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que não tinha divergências com o presidente do PDT, Leonel Brizola, sobre a necessidade de o presidente Fernando Henrique Cardoso renunciar. Apenas não acreditava nessa possibilidade. ‘Só tenho uma discordância com Brizola. Renúncia é um gesto de grandeza. Só um grande homem tem essa grandeza. Fernando Henrique não tem. Ele é orgulhoso e prepotente’, afirmou. Horas antes, no Congresso, Lula pediu a saída de Fernando Henrique do cargo: ‘Se Fernando Henrique avaliasse as pesquisas como negação à sua política e tivesse bom senso, quem sabe chegasse à conclusão de que sair é melhor. Mas se quer continuar levando o Brasil deste jeito...’”
Viram só? É um trecho de uma reportagem de O Globo, de Mônica Gugliano (íntegra aqui, no site do Senado). O PT e a CUT organizaram a chamada Marcha os Cem Mil em Brasília. A central anunicou a presença de 130 mil. Segundo os cálculos da PM, o protesto juntou 40 mil pessoas. Os petistas agiram como de costume. Ônibus pagos pela CUT e pelos tais “movimentos sociais” juntaram os profissionais da baderna.
Lula ataca agora a oposição feita pelo DEM. Ele, sim, sabia ser propositivo e elegante. Ainda um trecho da reportagem: "No discurso, Lula, dizendo estar emocionado, assinalou: ‘Estou duplamente gratificado, porque conseguimos dizer a Fernando Henrique e a sua corja que nunca mais ousem duvidar da capacidade de organização da sociedade brasileira. As pessoas não estão aqui por causa de um lanche de brinde, mas para recuperar a auto-estima e a dignidade’. Lula reiterou que a marcha era apenas o começo, porque os protestos, a partir de agora, só vão aumentar e, cada vez, disse, serão maiores: ‘Como diz a torcida do Corinthians, vamos arrasar. Porque Fernando Henrique, se a corda apertar, viaja para Paris. Nós ficamos aqui comendo o pão que o diabo amassou. Esta pátria é nossa’.”
Eis aí. Lula não enfrentou uma oposição como a que ele fez a FHC nem quando ficou provado que seu governo tinha sido assaltado pela cleptocracia. Que se note: o atual ministro da Justiça, Tarso Genro, havia pedido a renúncia de FHC oito meses antes, num artigo publico na Folha no dia 19 de janeiro de 1999, no 19º dia do segundo mandato de FHC. E onde estavam os atuais tocadores de tuba do petismo para acusar o golpismo de Lula?
Vamos ler um pouco mais sobre os patriotas? Que tal isto: “O presidente do PT, José Dirceu, seguiu essa linha. Disse, primeiro, que Fernando Henrique tentara intimidá-los afirmando que a manifestação era golpista. Em seguida, arrematou: ‘O grito do Brasil é de que ou Fernando Henrique muda de modelo econômico ou o Brasil vai mudar de governo.’ O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vicente Paulo da Silva, disse que o Governo é que levara um golpe porque afirmara que a manifestação seria pequena. ‘Viemos de bicicleta, a pé, de ônibus e até de jumento, o Governo é que levou esse golpe. (...) Golpe mesmo é a CPMF’”
Está faltando um patriota nessa matéria: João Pedro Stedile. Vamos a ele: “Pedro Stédile disse que condiciona a permanência de Fernando Henrique à aplicação imediata de um programa econômico de emergência com quatro pontos: rompimento com o FMI, moratória da dívida interna, confisco de R$ 7 bilhões que teriam sido especulados pelos bancos na mudança da política cambial e suspensão do envio de dólares ao exterior. ‘Se Fernando Henrique não atender ficará isolado politicamente. A situação só vai piorar ‘, disse Stédile."
É isso aí. Eis a moral do presidente da República que agora resolve demonizar a oposição. Esse foi o comportamento de Lula ao longo de oito anos de governo FHC. E não se enganem: Lula voltará a ser isso aí caso se eleja um presidente de oposição — a menos que o eleito decida condescender com todas as falcatruas petistas e mantenha intocado o aparelhamento do estado feito pelo partido.
E que se note: não estou igualando a atuação do DEM à do PT. Nada conseguirá ser igual àquilo. O DEM faz uma oposição leal, institucional e legal ao governo. Lula e seus tontons-macoutes é que tentaram derrubar FHC no grito. Aquilo, sim, é que era oposição golpista. E os atuais tocadores de tuba do petismo faziam o quê? Além da dedicação ao instrumento de sopro, demonizavam o “neoliberal” FHC.
Esses caras deixaram de praticar jornalismo faz tempo. Converteram-se em meros propagandistas do lulo-petismo. Deveriam seguir a trilha de coerência de Franklin Martins, Tereza Cruvinel e Helena Chagas: entrar no governo. A dupla militância é puro descaramento.
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